segunda-feira, 16 de abril de 2007

TRAVESSAS (8) - Outono

OUTONO - INQUIETUDE

Hoje é dia 11 de Novembro, dia de S.Martinho.
Dia normalmente alegre, dia das castanhas e da prova do vinho novo.
Dia soalheiro, verão de S.Martinho!

Para mim, angústia, inquietude!
Piso um tapete de folhas secas, amargura de vida perdida!
Queria ser poeta, mas não consigo rimar!
Queria ser escritor, mas não consigo a prosa!
Que se passa, meu Deus, se o céu está azul e o sol é quente?
Porquê? Sim, porquê, esta angústia, este desejo de nada ser, esta ânsia de desaparecer!
Porquê esta opressão, esta agonia dentro de mim, se não há nuvens no céu, o vento não uiva e não se vislumbra tormenta no horizonte?

(Para ti, pai, a minha homenagem, a minha saúdade, a minha forma de estar contigo!)

Na vida há duas idades dos porquês: a infância e a fase madura que antecede a terceira idade, mais tarde somos de novo crianças e o
ciclo repete-se.
Se na infância, ingénuamente, perguntamos como vai ser a vida, mais tarde interrogamos a razão dessa mesma vida.
Tantos sonhos, tanta esperança e finalmente tanta frustação, desilusão, tantas interrogações...
Será que a vida é por natureza má, ou somos nós que a fazemos assim?
Porquê tanta ganância, tanta ambição desmedida, tanto ódio no mundo, se a passagem é efémera, as crianças quando nascem
são puras, a natureza é deleite e o sonho comanda a vida?
Por vezes fico pensando, como é possível tanta maldade, tanto egoísmo, se a terra é eterna, se os rios mesmo quando saem do
seu leito continuam a correr, e nós somos apenas migalhas
de um festim de interesses, julgamos viver, mas vegetamos, isso sim, ao sabor de conveniências mesquinhas, somos marionetas
num mundo que não aceitamos mudar.

Depois desta angústia, desta emoção derrotista, o que resta?
O fim? Não! O mundo não para e a vida continua.

Para o ano teremos mais um dia 11 de Novembro, dia de S.Martinho!
Este dia será sempre um dia amargurado, um dia perturbado na minha vida, todavia há mais dias na vida de um ano.
É urgente erguer a cabeça, olhar em frente, sentir que o nosso contributo na construção dum mundo melhor é fundamental.
Não podemos deixar que os outros façam por nós aquilo que
nós temos de fazer.
Amanhã o sol vai nascer de novo, a chuva vai manter-se afastada e o frio tarda em chegar!
Este Outono, estação do ano, para uns será Outono da vida! Não podemos, no entanto,jamais esquecer que se, infelizmente, alguns
conseguem transformar a Primavera das suas vidas em decrépitos Invernos, outros, de forma radiosa, conseguem transformar o seu
Outono em brilhantes dias de Verão. Os nossos passos vão seguindo o seu destino, é assim a vida, inquietude, mas também esperança.

(Texto em memória pelo dia de S.Martinho de 1996 - a ti pai!)

Travessas, 11 de Novembro de 2003


Carlos Manuel F.Gonçalves

(Jornal de Arganil nº. 3915 de 18 de Dezembro de 2003)

1 comentário:

intervalo disse...

Tem gente que vira poeta nos tantos porquês,rima a ânsia de vida a agonia opressiva e faz desta tormenta versos que mexem com alma de quem lê,porquê? somos tão parecidos,vida segue enfrente como nossas inquietudes sonhos alimentados em cada novo amanhecer.Você escreve com alma,gosto sentir cada palavra tua.Carlos Boa noite e uma semana mágica.beijoss meus.Lia...