Dias de Inverno!
O vento uiva nas despidas carvalhas do Cabeço;
A chuva fustiga os telhados das velhas casas;
O frio cai sobre a natureza, gela os nossos corações;
A geada branqueja os campos, escurece a nossa alma;
A neve veste a serra com um manto diáfano de brancura, manto esse que o fugídio sol vai desnudando nas suas raras aparições;
O nevoeiro transforma o amanhecer no crepúsculo do ocaso;
A água corre por montes e vales, enchendo os socalcos e os barrocos, tropeçando nas pedras soltas e nos ramos tombados
das árvores, saltando por entre penhascos em cascatas de espuma...
das árvores, saltando por entre penhascos em cascatas de espuma...
Neste ambiente depressivo, as pessoas das aldeias, na sua maior parte na fase do entardecer, fecham-se nas suas casas,acendem a lareira, pensam na família por vezes distante, veêm as noticias na
televisão e vão para a cama, onde durante doze longas horas, pouco dormem, mas revivem a mocidade distante, vivem a angústia
da solidão e por fim aguardam ansiosos a aurora do novo dia.
Esta estação do ano é, sem dúvida, a mais triste, a mais sofrida, especialmente para quem vive só!
O negrume do quotidiano, o silêncio dos gritos da vida, o vazio dos dias sem esperança!
Mesmo os passarinhos, habitualmente tão esfusiantes nos seus voos e cantorias, também se escondem, quase desaparecem, apenas ali
um triste pisco, com a sua gola amarela em volta do pescoço, olha
sem ver a solidão dos campos, talvez pensando porque fugiu o seu companheiro, talvez tenha morrido, sentindo que os filhos
desaninharam, foram para longe, talvez não voltem...
Inverno é velhice assumida, é branco, é cinza, é grisalho, é como a despedida de um grande amor!
É a estação do nosso descontentamento, o fecho de um ciclo, mas também o dealbar de uma nova Primavera!
Quantas vezes ouvimos dizer aos mais idosos: 'passou mais um Inverno, já vivi mais um ano'! É assim a sabedoria do nosso povo, eles sabem que com o Inverno passado, o pior já passou!
Nem sempre, infelizmente, esta crendice é verdadeira, mas é bom
ver o sinal de esperança e de fé de quem sempre lutou e sofreu.
Toda a juventude devia saber ouvir e assimilar os conhecimentos, a experiência da vida dos mais idosos!
O futuro constrói-se com a cultura dum povo, mal daqueles que renegam o seu passado, as suas origens!
Todos os dias desenvolvemos o intelecto, existe mesmo uma frase muito conhecida, que diz: 'quanto mais sei, mais sei que nada sei'!
Nada mais verdade, aprender até morrer e saber ouvir quem já muito viveu, é uma das melhores formas de cultura.
Os mais velhos são, muito das vezes, ignorados e desprezados pelos
poderes instituídos, pela sociedade! Abandona-se quem gerou aquilo que somos, renuncia-se aos valores que nos transmitiram, obscura-se
o saber da razão! E é ao olvidar estes valores que nos tornamos mais
primitivos, mais irracionais! Desenvolvemos muitas coisas novas, vamos cada vez mais longe, mas perdemos principios, não sabemos
ser uma família, não sabemos construir a paz, vivemos, mas não sabemos amar...
Inverno, é o simbolo da angústia, da intolerância das mentes, da opressão dos sentidos! Se os naturais das nossas aldeias tivessem o dom da omnipotência, não existiria esta estação, mas como tal não é possível,todos esperam ansiosos pela sua partida, que os lindos dias de Primavera cheguem depressa,a bruma se esconda para
lá do horizonte, os campos se encham de flores, o vento seja suave brisa, o céu azul cintilante, o sol aqueça os nossos corações, o cuco
regresse de novo, mesmo que seja para pôr os ovos nos ninhos das
outras aves, as andorinhas voltem aos seus lares nos beirais das nossas casas, a água deslize docemente no seu leito virginal,
e que os mais idosos nos contem sábias histórias, nos ensinem o verbo amar e a forma de construir o futuro...
Travessas, Janeiro de 2004
Carlos Manuel F.Gonçalves
(Jornal de Arganil nº. 3924 de 19 de Fevereiro de 2004)
1 comentário:
Boa tarde Carlos...de sol,as nuvens são espumas das águas do mar refletidas no céu esta é a visão tenho aqui,e que esteja dentro de ti,renovando teu brilho nesta estação do ano que mexe tanto com teu ser,leio teus escritos é uma viagem que transporta-me aos tempos que deixei para trás,sinto algo profundo dentro de mim,uma mistura de emoções não sei decifrar,talvez meu querido temos inverno dentro de nós nas outras estações e porque não,também na primavera com suas cores,perfume que penetra nossas almas e nos faz pensar,porque não somos como ela colorida em cada amanhecer,é verão aqui calor e faz frio dentro de mim,perguntas sem respostas essa inquietude imagino vem dos príncipios recebi e não desejo que desaparecem,acho que estou a conhecer o sentindo da solidão.Um desejo,que eu não perca o desejo de aprender em cada novo dia e que o amor continue sendo essencial no meu caminhar.Agradeço à Deus, oportunidade de conhecer pessoas como você.Desejo que tenha,saúde e paz no teu caminhar e sempre escreva o que vai dentro de ti e faz bem para muitas almas que aqui chegam,assim como eu.Sinto saudades disso...
Quantas vezes ouvimos dizer aos mais idosos: 'passou mais um Inverno, já vivi mais um ano'! É assim a sabedoria do nosso povo, eles sabem que com o Inverno passado, o pior já passou!
Nem sempre, infelizmente, esta crendice é verdadeira, mas é bom
ver o sinal de esperança e de fé de quem sempre lutou e sofreu.
Que eu não perca o EQUILÍBRIO,
mesmo sabendo que inúmeras forças querem que eu caia
Que eu não perca a LUZ e o BRILHO NO OLHAR,
mesmo sabendo que muitas coisas que verei no mundo,
escurecerão meus olhos...(Chico Xavier)
Carlos querido,beijoss com meu carinho.Lia...
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