‘ACACIO DAS TRAVESSAS’ – 20 ANOS DE SAUDADE!
Partir!
Saudade!
Duas palavras que exprimem uma
despedida, uma nostalgia, um sentimento de dor!
Partiste, meu pai, sem te despedires, foste ingrato, ires embora quando mais
tínhamos necessidade de ti.
Saudade, pai, da tua presença amiga, da sabedoria dos teus conselhos, da
fraternidade que sabias transmitir à família e aos amigos.
Partiste, levaste contigo um pouco de nós, assim como levaste a tua terra,
Travessas, terra que tanto amavas.
Saudade, da tua jovialidade, da irrequietude, da confraternização, das festas, do
convívio em qualquer lugar, do lançar do foguete mesmo que fosse necessário
inventar pretexto…
Partiste, faz agora vinte anos, muitos anos de ausência, deixaste um vazio irreparável,
podias ter partido mais tarde, com a tua maneira de ser, ainda hoje eras jovem.
Saudade, dos passeios que dávamos pelos campos, da tua alegria quando mostravas um
novo enxame de abelhas, no nascimento duma vinha com nova casta, na floração
duma jovem planta, no êxito duma enxertia feita em ramo de árvore bravia…
Partiste, deixaste uma terra abandonada, as silvas e as ervas daninhas ocuparam o
espaço dos campos verdejantes, as vozes passaram a silêncios, as águas, outrora
cristalinas e puras, passaram a turvas e inquinadas, os pássaros ou
desapareceram ou ficaram mudos, a natureza ficou mais triste, mais inquieta,
deixaste uma terra órfã…
Saudade, da tua esperança no futuro - nunca te ouvi falar muito do passado -, no
acreditar da juventude e das gerações vindouras, na convicção de que no
presente estamos a semear as raízes para um amanhã que todos queremos melhor.
Partiste, calou-se a tua voz das cantigas ao desafio, sempre o primeiro a aparecer
quando se ouvia uma guitarra ou uma concertina, sempre o ultimo a abandonar o
despique, nesses momentos genuínos dos artistas das nossas aldeias.
Saudade, da tua eterna juventude, as crianças gostavam de ti, porque ao pé delas
também eras criança, as brincadeiras, as anedotas, o parceiro de qualquer jogo,
o rebolar de pedras por uma encosta, o dançar trapalhão numa qualquer festa…
Partiste, deixaste um mundo a separar-nos, mas paraste no tempo e nós continuamos a
acompanhar a vida, amanhã, um dia destes, vamos alcançar-te e juntos, de novo,
viver a eternidade.
Saudade, de todos que te amavam, dos campos que ficaram na solidão do vazio… As
lágrimas são lagos no nosso olhar, a natureza transforma em orvalhada o grito
da tua ausência…
Partiste… eterna saudade!
Até amanhã, meu
pai!
Quinta do Anjo, 11 de Novembro de 2016
Carlos Manuel Fernandes Gonçalves