sexta-feira, 23 de março de 2012

REGRESSO [… primavera]!




Voltaste!

Brisa de beleza no amanhecer, luz matizada de arco – íris estampada na orvalhada, campos de azul na amálgama do céu, árvores de abraços em flor, jardins túmidos de esperança, riachos a bordejar no abraço de choupos e salgueiros, andorinhas voando no imutável dos sonhos…

Regressaste!

Trouxeste o corpo, mas também a alma!

Chegaste nua, quiseste dizer-me que trazias a pureza que sempre te conheci, nada tinhas a esconder, regressavas a mesma mulher, o mesmo corpo, agora com alma, voltavas aos meus braços…

E eu abracei-te o corpo e beijei-te a alma, enlaçados corpo e alma, virgens de sentimentos, apaixonados, fizemos amor no leito da natureza, sorrimos felizes, regressámos à vida.

Semeei espigas de trigo nas colinas do teu corpo, plantei riachos nas tuas entranhas, nesta sementeira, a fecundação do teu ser, a eternidade do paraíso da terra, o matar da minha fome, o saciar da minha sede…

Estranhamente, nunca disse que te amo, mas te chamo de amor!

A tua ausência inspirou-me, na angústia, palavras com poesia. Contigo, minha querida, perdi todo o estro poético… na paixão, só tu és a minha inspiração!

Meu amor regressaste… que linda a Primavera!



Carlos Manuel Fernandes Gonçalves

segunda-feira, 19 de março de 2012

DIA DO PAI - 'ACACIO DE TRAVESSAS' - ETERNA SAUDADE!




Partir!
Saudade!
Duas palavras que exprimem uma despedida, uma nostalgia, um sentimento de dor!

Partiste, meu pai, sem te despedires, foste ingrato, ires embora quando mais tínhamos necessidade de ti.

Saudade, pai, da tua presença amiga, da sabedoria dos teus conselhos, da fraternidade que sabias transmitir à família e aos amigos.

Partiste, levaste contigo um pouco de nós, assim como levaste a tua terra, Travessas, terra que tanto amavas.

Saudade, da tua jovialidade, da irrequietude, da confraternização, das festas, do convívio em qualquer lugar, do lançar do foguete mesmo que fosse necessário inventar pretexto…

Partiste, já fez 15 anos, muitos anos de ausência, deixaste um vazio irreparável, podias ter partido mais tarde, com a tua maneira de ser, ainda hoje eras jovem.

Saudade, dos passeios que dávamos pelos campos, da tua alegria quando mostravas um novo enxame de abelhas, no nascimento duma vinha com nova casta, na floração duma jovem planta, no êxito duma enxertia feita em ramo de árvore bravia…

Partiste, deixaste uma terra abandonada, as silvas e as ervas daninhas ocuparam o espaço dos campos verdejantes, as vozes passaram a silêncios, as águas, outrora cristalinas e puras, passaram a turvas e inquinadas, os pássaros ou desapareceram ou ficaram mudos, a natureza ficou mais triste, mais inquieta, deixaste uma terra órfã…

Saudade, da tua esperança no futuro - nunca te ouvi falar muito do passado -, no acreditar da juventude e das gerações vindouras, na convicção de que no presente estamos a semear as raízes para um amanhã que todos queremos melhor.

Partiste, calou-se a tua voz das cantigas ao desafio, sempre o primeiro a aparecer quando se ouvia uma guitarra ou uma concertina, sempre o ultimo a abandonar o despique, nesses momentos genuínos dos artistas das nossas aldeias.

Saudade, da tua eterna juventude, as crianças gostavam de ti, porque ao pé delas também eras criança, as brincadeiras, as anedotas, o parceiro de qualquer jogo, o rebolar de pedras por uma encosta, o dançar trapalhão numa qualquer festa…

Partiste, deixaste um mundo a separar-nos, mas paraste no tempo e nós continuamos a acompanhar a vida, amanhã, um dia destes, vamos alcançar-te e juntos, de novo, viver a eternidade.

Saudade, de todos que te amavam, dos campos que ficaram na solidão do vazio… As lágrimas são lagos no nosso olhar, a natureza transforma em orvalhada o grito da tua ausência…

Partiste… eterna saudade!

Até amanhã, meu pai!



Carlos Manuel Fernandes Gonçalves

segunda-feira, 12 de março de 2012

NAVEGAR!




Inventar o onírico de sonhos belos,
Navegar no leito dos teus cabelos,
Perder-me na imensidão do teu olhar,
Descobrir a fome na sede dos teus lábios,
Saciar desejos na volúpia dos teus seios,
Desaguar nas ondas de posse do teu amar…



Carlos Manuel Fernandes Gonçalves

Quinta do Anjo, 10 de Março de 2012

sexta-feira, 9 de março de 2012

PORTO SEM ABRIGO!



Em voos luxuriantes,
Gostas de variar beirais,
Exibindo a plumagem,
No garboso da paisagem,
Fazendo do corpo um cais.
Não um cais porto de abrigo,
Mas um abrigo sem cais…



Carlos Manuel Fernandes Gonçalves

Quinta do Anjo, 21 de Janeiro de 2012 (15H43)

terça-feira, 6 de março de 2012

MAR [… amar]!




Na praia olhando o mar…
Dois desassossegos em confronto,
No mar, a inquietude das ondas,
Em mim, a inquietude da alma.
Na distância quase me afogo
Nas águas tempestuosas da saudade,
Quando te encontro,
No desvario do abismo do teu ser…



Carlos Manuel Fernandes Gonçalves

Quinta do Anjo, 6 de Março de 2012 (11H04)