domingo, 24 de janeiro de 2010

REGRESSO [PRIMAVERA]




Voltaste!

Brisa de beleza no amanhecer, luz matizada de arco – íris estampada na orvalhada, campos de azul na amálgama do céu, árvores de braços em flor, jardins túmidos de esperança, riachos a bordejar no abraço de choupos e salgueiros, andorinhas voando no imutável dos sonhos…

Regressaste!

Trouxeste o corpo, mas também a alma!

Chegaste nua, quiseste dizer-me que trazias a pureza que sempre te conheci, nada tinhas a esconder, regressavas a mesma mulher, o mesmo corpo, agora com alma, voltavas aos meus braços…

E eu abracei-te o corpo e beijei-te a alma, enlaçados corpo e alma, virgens de sentimentos, apaixonados, fizemos amor no leito da natureza, sorrimos felizes, regressámos à vida.

Semeei espigas de trigo nas colinas do teu corpo, plantei riachos nas tuas entranhas, nesta sementeira, a fecundação do teu ser, a eternidade do paraíso da terra, o matar da minha fome, o saciar da minha sede…

Estranhamente, nunca disse que te amo, mas te chamo de amor!

A tua ausência inspirou-me, na angústia, palavras com poesia. Contigo, minha querida, perdi todo o estro poético… na paixão, só tu és a minha inspiração!

Meu amor regressaste… que linda a Primavera!


Quinta do Anjo, 24 de Janeiro de 2010

Carlos Manuel Fernandes Gonçalves


sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

INTERVALO DE PALAVRAS e ... perdido

INTERVALO DE PALAVRAS


Tenho estado no intervalo das palavras!

Tudo na vida tem um intervalo, a excepção, talvez seja, a própria vida, que não aceita intervalos na sua caminhada.

O meu intervalo deveu-se a uma fase de desilusão, no constatar de algumas situações que não aprecio, também de reflexão, no sentir que, muitas vezes, não sei para que escrevo e para quem escrevo.

Comecei a redigir textos sobre a minha terra, as minhas raízes, uma aldeia perdida no interior da Beira Serra, de seguida, aventurei-me na prosa da vida, mais tarde, descobri a poesia.

Sou um incipiente num mundo de intelectuais, alinhavo palavras, não sei rimar!

Tenho escrito muito, nem sempre bem, escrevo o que sinto, quase sempre vivências, mas também ficção, umas vezes melhor, outras pior, com palavras minhas, nunca nos meus textos fiz, conscientemente, plágio de algo ou de alguém.

É óbvio que, vivo influências de outros escritores, quem lê muito, durante a vida, fica sempre impressionado com um determinado estilo de escrita e modo de pensamento, não nego que Miguel Torga é, para mim, uma fonte de inspiração, mas mesmo aqui não sei se é Torga que se insinua no meu espírito ou se, pelo contrário, ambos bebemos da mesma fonte inspiradora, ou seja, as origens modestas, as aldeias, as fragas, os montes e vales… Torga disse, ‘quem faz o que pode, faz o que deve’ e esta tem sido, na verdade, a minha maneira de ser, não apresentar mais do que aquilo que posso fazer.

Este fenómeno dos blogs é uma situação deveras interessante, é uma forma de cultura, escrever sentimentos, transmitir opiniões, descobrir talentos, fazer amizades, aprender…
Aqui encontrei pessoas com um dom de escrita, em prosa e verso, de excepcional qualidade, só não sendo conhecidos do grande público, uns por não se quererem expor e outros por falta da procura de oportunidades e desconhecimento de editoras.
Mas este é, também, em pormenores, um mundo de enganos, de insinuações, de falsos talentos, de habilidosos, de muitos que necessitam do anonimato da escuridão para poderem ser visíveis, enfim, um buraco negro que aceita todo o tipo de mistificações.
Há muitos que plagiam descaradamente, outros inserem textos eróticos, mesmo pornográficos, para atraírem comentários libidinosos e alguns, apesar de serem escritores com livros publicados, limitam-se a inserir textos de autores consagrados, mostrando como são eruditos no gosto das escolhas.

Muita gente preocupa-se, essencialmente, em ter nas suas publicações, muitos comentários, normalmente de apreço, que os colegas e amigos, simpaticamente, lhe fazem chegar, e depois, como resposta, inserem um texto, em prosa ou verso, igual para todos, não se preocupando minimamente em ler e responder aos textos dos seus colegas. Existem alguns que dizem sempre os mesmos adjectivos, ‘belo’, ‘maravilhoso’, ‘fascinante’, ‘admirável’, etc., e outros que fazem comentários a roçar o inconveniente, de muito mau gosto.
Também há, felizmente, muitas pessoas sérias e honestas nestes ambientes, que me tem deleitado com a poesia das suas palavras e com quem muito tenho aprendido (há mesmo uma que me obrigou a ter o site do ‘Priberam’ nos meus favoritos) e que sempre vou recordar com muita simpatia e amizade.

Tudo isto me fez hesitar, no sentido de continuar ou terminar este ponto de encontro, mas a pedido de muitos conhecidos e amigos, ligados às minhas origens e a este intercâmbio bloguista, vou continuar, periodicamente, a deixar algumas mensagens, em prosa ou verso, de palavras, que tal como as fragas da minha serra, podem ser informes, escuras, duras e angustiantes, mas serão sempre genuínas, minhas…


Quinta do Anjo, 14 de Janeiro de 2010

Carlos Manuel Fernandes Gonçalves







P E R D I D O


ESCURIDÃO

Porque será:
que as nuvens são espantalhos,
a chuva são pedras,
o frio é branco,
o sol é preto
e a escuridão me engole?
Sim,
porque razão, o vento me arrasta e me leva de ti!


Quinta do Anjo, 10 de Janeiro de 2010 (10H58)

Carlos Manuel Fernandes Gonçalves



SOLIDÃO

Solidão:
Onde as paredes esmagam,
e as sombras são o destino;
o canto dos pássaros silêncios,
e os silêncios são gritos!
E eu... sim, quem sou eu nesta agonia?
Apenas... um rio sem nascente, na margem da vida,
um barco no deserto, em busca de ti!


Quinta do Anjo, 10 de Janeiro de 2010 (16H34)

Carlos Manuel Fernandes Gonçalves