domingo, 8 de abril de 2007

TRAVESSAS (2) - As Ruas da Minha Terra

Travessas!

Fica situada quase na fronteira dos concelhos de Arganil e Góis, avista-se da EN-342, no Alto do Pereiro ou no ramal da Sarnoa
para Celavisa, a serra da Gatucha acolhe-a no seu colo, a Senhora da Paz e Santa Luzia são padroeiras na sua protecção...
É, sem dúvida, a aldeia mais bonita do concelho de Arganil!
A sua beleza advém da localização, da paisagem, das vistas, das pessoas...
Tudo aqui irradia tranquilidade, sossego, paz, amor...
No entanto, e como tudo na vida, há sempre um senão que não podemos ignorar: a nossa terra tem poucas ruas!

Depois deste preâmbulo, é natural a pergunta: se existe tanto encanto para quê falar de ruas?
Todavia, quão importantes são as ruas! Não sòmente pelos acessos, mas pelo que as mesmas representam.
Em todo o mundo as ruas representam algo, um facto ou uma personagem histórica, um deus mitológico, um benfeitor,
alguém importante pelo que fez pela terra, etc.

Na minha terra as ruas não têm nome!
E não têm nome porque são poucas!
Como podemos perpetuar nomes como os de Acácio Gonçalves, Ramiro Gonçalves, Silvério Neves, António Simões, Carlos Gomes,
Adelino Gomes, Benjamim Gomes e Alfredo Gomes, se não temos ruas em número suficiente?
Todos estes grandes homens das Travessas e outros que porventura olvido, deveriam ter o seu nome inscrito numa qualquer rua da
nossa aldeia, mas a terra é pequena para estes homens que deram o melhor de si próprios para o bem da comunidade em que viveram.

Esta geração de homens e também de mulheres, muitas delas felizmente ainda vivas, ajudaram a transformar uma terra em que
a iluminação era fornecida por candeias de azeite ou candeeiros a petróleo, em que a água não chegava às casas, o telefone estava
em Celavisa e a estrada era de terra batida por onde sòmente passavam carros de bois...

Eles merecem a homenagem do nosso reconhecimento, foram persistentes e determinados, sofreram na pele a incompreensão
e o abandono dos poderes instituídos, salvo raras excepções, as quais queremos salientar por ser de justiça, os actuais Presidentes
da Junta de Freguesia de Celavisa (António Dimas) e da C.M. de
Arganil (Engº Rui Silva), no entanto, essas atitudes nunca os fizeram desistir das suas convicções, ousaram lutar, foram firmes no ânimo,
conseguiram vencer!

É nostálgico pensar, agora que temos tudo que ansiámos na nossa modéstia, temos a ausência daqueles que nos ajudaram a
proporcionar esse anseio.
É assim a vida: ontem, hoje e amanhâ!
Ontem éramos crianças, hoje pais, amanhã avós!
Em cada amanhecer a vida é esperança, as folhas secas não voltam a desabrochar, mas surgem novas folhas no renascer de cada dia.

Vamos assim imaginar que a nossa terra é enorme, vamos pôr nomes em todos os becos, calçadas, travessas, ruas e avenidas, vamos
perpétuar todos aqueles que fizeram das Travessas aquilo que ela é: um paraíso para quem a visita, um doce lar para quem a ama...


Travessas, Março de 2003


Carlos Manuel F.Gonçalves

(Jornal de Arganil nº. 3879 de 10 de Abril de 2003)

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