sexta-feira, 28 de maio de 2010

DESAGUAR [... amor]


Voava em terra de escolhos,
Pousei em árvore de sonhos,
E entre lençóis de folhas,
Dormi no mar dos teus olhos,
Teus lábios foram rastilhos,
Os teus seios acendalhas.

Na loucura dos meus beijos,
No chamejar dos desejos,
Abriste o teu lago em flor,
E num vendaval de ais,
O teu corpo foi o cais,
Onde desaguou o amor.

(Num rio desesperado que nunca desagua… o desaguar de mim!)


Carlos Manuel Fernandes Gonçalves

Quinta do Anjo, 23 de Maio de 2010

segunda-feira, 17 de maio de 2010

INTERVALO!




Durante uns tempos vou estar ausente!



Há momentos na vida em que preciso reflectir, procurar a paixão da natureza, viver com ela, e apenas para ela, sonhar nos seus braços... Assim, nada melhor de que tornar-me pescador. Já embalei sentimentos, comprei cana, anzol e minhoca, reservei a beleza das águas do Sado e da costa Atlântica, tenho, deste modo, todas as condições para pescar botas, preservativos, ilusões, sonhos e alguma ninfa que, eventualmente, se sinta atraída pelos meus suspiros e me venha acariciar num raio de sol poente.


Quando voltar, vou regressar com mais ânimo, mais inspirado. Com o produto das pescarias vou abrir uma sapataria, tendo à entrada uma máquina de preservativos e também tornar-me construtor, construir uma ligação a um universo de deusas e sonhos.


Até breve… abraços e beijos, num [já] sentir de saudades.


Quinta do Anjo, 17 de Maio de 2010


Carlos Manuel Fernandes Gonçalves

sexta-feira, 14 de maio de 2010

SENTIMENTOS PERDIDOS!



Por vezes vivo a prostituir sentimentos!

Ando nas nuvens, voo em espaço livre, sonho sonhos, sonhadoramente utópicos, e dentro em pouco, estou explodindo em todas as direcções, rumo ao abismo, na ânsia louca de congregar sonhos dispersos.

Quando se aproxima o ocaso, penso agarrar o mundo, viver num dia o que perdi na vida, vou procurando a imortalidade em sonhos mortais.

Paixão e sentimentos na fogueira da vida!

Um fogo que vou ateando em ilusória cumplicidade de incandescentes carvões, no momento em que o rocio da noite vai apagando o borralho existente, um rio lamacento numa margem de cinzas…



Quinta do Anjo, 14 de Maio de 2010


Carlos Manuel Fernandes Gonçalves


sábado, 1 de maio de 2010

ARDENCIAS [... para teu prazer]!



Sei que fui gerado para ser uma das tuas paixões!

No primeiro acto de existir, nasci, planta, imberbe, folha verde, em áspera terra. Cresci virgem, ornado de fulgor, fascinante como o selvagem da natureza, em todo o seu esplendor.

Maduro, transformado, elegante, vivo para ti, sou a tua companhia em todos os lugares da tua vida, na tua casa, na rua, na serra, olhando o mar, na nudez das tuas intimidades… Sou o ritual do teu quotidiano, o teu vício nos intervalos do ócio, o teu alucinogénio no relaxamento do corpo, o teu gozo nos momentos de paixão…

Sei que te amo perdidamente, vivo alucinado no fátuo de ser a tua dependência, a sensualidade de ti, fico desvairado quando os teus dedos acariciam o meu corpo ardente e sinto no filtro do meu ser o mel dos teus lábios, quando me sugas quase te afogo no mar dos teus desejos, quando te abraço nos anéis dos meus beijos e te deleitas nas loucuras que te dou.

É verdade, não tenho ilusões na existência, sei que, inflamado, vou ardendo na fogueira do momento, o meu ser fumegando no acalmar das tuas angústias, sei que no instante em que já pouco de mim restar, quando te tiver saciado todo o teu corpo, nesse instante tenho consciência do término da minha razão, já não presto, fui um objecto nas tuas mãos, útil apenas para teu prazer.

E no final, quando já nada restar das ardências do corpo e da alma, vais esmagar-me com o salto do teu sapato e abandonar-me, desprezado, esventrado, esvaído… beata apagada na sarjeta da vida.

(Eu… o cigarro do teu vício!)


Carlos Manuel Fernandes Gonçalves

Quinta do Anjo, 30 de Abril de 2010