segunda-feira, 30 de novembro de 2009

A ARVORE



A ARVORE (I)

A árvore!

Um álamo ou choupo, na representação duma peça da natureza, no sentir da minha existência.

Árvore, minha mãe ausente, meu pai presente, mulher da minha vida! Companheira dedicada e confidente, dos meus desvarios, das minhas angústias, dos meus sonhos, das minhas paixões…

Dorme paredes meias comigo, acorda-me, docemente, na manhã, sob a forma dum melro madrugador e o suave gemido da brisa nas suas folhas, é o som do beijo húmido e apaixonado que me enlaça na alvorada.

Durante o dia, os seus ramos parecem agarrar o céu, na imagem dum pincel gigante, que pinta de azul o horizonte da serra.

Por entre a sua folhagem de sombras, anoiteço num mar de estrelas, no vislumbre da Lua das minhas paixões.

Nas estações da minha vida, a árvore, faz dela as minhas estações, numa visão de mulher bela e fascinante: na Primavera, encanta-me, na sua passagem de modelos, quando se veste de folhas e flores; no Verão, abraça-me na sombra dos seus ramos, o chão é alcova onde dormimos juntos; no Outono, desnuda-se de forma sensual, mostra-me todo o fascínio do seu corpo, no pálido sol da tarde, que me aquece a alma, fazemos amor na conjunção das nossas sombras; no Inverno, nos trovões da vida, na sinfonia do vento e na teia da chuva, é música calmante, é bailado, é rio doce, nos gritos do meu ser… E mesmo quando a neve lhe alveja os ramos e a geada queima as raízes, vejo apenas o grisalho do meu cabelo, no entardecer da vida.

No meu paganismo, ela representa o meu Deus, o meu pai enraizado, muitas vezes falo com ela, conto-lhe das minhas inquietudes, dos meus anseios, das minhas mágoas, dos momentos felizes… E, em momentos, parece que ela me entende, me aconselha e me acalma, no murmúrio dos dias que deslizam por entre os dedos abertos.

Amanhã, vou partir, mas regressarei um dia, serei raiz, serei tronco e ramos, serei flor, serei árvore, natureza…

A ARVORE (II)

No belo do teu verde,
A pintura do meu céu!
Natureza,
Beleza…
Por debaixo do teu véu,
Um corpo de mulher
Presente,
Num coração que sente.


Quinta do Anjo, 30 de Novembro de 2009

Carlos Manuel Fernandes Gonçalves

terça-feira, 24 de novembro de 2009

TARDE DE OUTONO



TARDE DE OUTONO

Sábado,
Tarde de Outono:
Vento,
No sussurro dos teus lábios;
Chuva,
No rio do teu corpo;
Escuridão,
Na cascata do desejo;
Paixão,
Na rosa dos jardins interditos.
Metamorfose do meu ser:
No gostar do Outono,
Por gostar de ti!

21 de Novembro de 2009

Carlos Manuel Fernandes Gonçalves


SOLIDÃO

Não gastes os dias,
Vivendo uma ilusão!
A vida é aragem,
Uma miragem,
Em tarde de solidão.

22 de Novembro de 2009

Carlos Manuel Fernandes Gonçalves

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

V I D A

Nasci,
Nu,
Livre,
Selvagem…
Corpo meu,
Alma minha!
Amor,
Luzes.

Vivo,
Entrapado na obscuridade,
Prisioneiro na existência,
Amansado na sombra dos costumes…
Corpo de todos,
Alma amordaçada!
Paixões interditas,
Brumas.

Morrerei,
(amanhã?)
Emplumado,
Natureza,
Águia na serra...
Corpo da terra,
Alma no etéreo!
Quimera,
Eternidade.


Quinta do Anjo, 18 de Novembro de 2009

Carlos Manuel Fernandes Gonçalves

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

D E S E S P E R O




M A R

Sou mar,
Sou água…

Sou…

Escuridão,
No crepúsculo das águas.
Inquietude,
No desassossego das ondas.
Angustia,
No desfiladeiro dos silêncios.
Temporal,
Nas águas endemoninhadas.
Solidão,
No vazio da imensidão.
Sede,
No sal das lágrimas.
Ímpio,
No Deus, gaivotas.
Cais lamacento,
Nos dejectos da existência.
Odor,
Na maresia inquinada.
Nada,
No porto dos sem-abrigo.
Louco,
No fascínio das ninfas e no canto das sereias.
Quimera,
Na ilusão dos sonhos naufragados.
Fantasma,
No diáfano das sombras do vento.
Desespero,
Na água que se esvai na espuma da vida!






QUEM SOU EU?

Terra inóspita,
Água estagnada,
Sombra
Ou
Nada!


Quinta do Anjo, 11 de Novembro de 2009

Carlos Manuel Fernandes Gonçalves

sábado, 7 de novembro de 2009

P O E S I A

A tua alma,
A minha poesia.
O teu corpo,
A minha paixão.

Poesia,
Paixão…

Longe de ti,
Sou poeta.
Perto de ti,
Sou um homem.
(… Amor!)


Quinta do Anjo, 7 de Novembro de 2009

Carlos Manuel Fernandes Gonçalves

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

C A V A D O R

Semeei:

Gritos,
Nos montes de silêncios;
Vazios,
Nos oceanos de esperança;
Utopias,
Nos paraísos da eternidade;
Angústias,
Nas asas das andorinhas;
Escuridão,
No caleidoscópio das planícies;
Inquietude,
Na suave brisa das ondas;
Loucuras;
No deslumbramento do desconhecido.

Mas também:

Afectos,
No oásis da tua natureza;
Beleza,
Na imagem da tua alma;
Poesia,
Na nudez do teu retrato;
Erotismo,
No sal da tua enseada;
Beijos,
Nas flores do teu jardim;
Abraços,
No enleio das tuas margens;
Paixão,
No vulcão do teu corpo.

Colhi:

Ilusões,
No hoje;
Esperança,
No amanhã;
Amor,
Em ti!


Quinta do Anjo, 1 de Novembro de 2009

Carlos Manuel Fernandes Gonçalves