sexta-feira, 28 de agosto de 2009

TERRA VIRGEM - (... a Terra da minha terra)

Sonhar-te;

Encontrar-te;

Desbravar-te;

Desnudar-te;

Violar-te;

Penetrar-te;

Rasgar-te;

Fecundar-te;

Semear-te;

Acarinhar-te;

Colher-te;

Amar-te...



Quinta do Anjo, 28 de Agosto de 2009

Carlos Manuel Fernandes Gonçalves

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O B S E S S Ã O

Olho o teu rosto, oval perfeito, abstractamente, pinto-o!
Admiro os teus olhos, grandes, adoráveis, vejo as cores do arco-íris!
Detenho-me nos teus lábios, carnudos, sensuais, sinto o arrepio do beijo!
Fixo o teu sorriso, belo, misterioso, que encerra promessas!
Adoro o teu cabelo liso e rebelde, sinto inveja quando te acaricia a face!
Deleito-me na contemplação do teu corpo, livro raro e inacabado, que gostaria de ler!


Na distância, os meus olhos procuram os teus e esse encontro é o saciar do desejo, da perdição de não poder passar sem ti.

Esta sede que me dilacera o corpo e a alma, perturba-me os sentidos, faz-me delirar, nesta febre dos dias passados apenas no sentido de te ver, de timidamente tentar acariciar-te e sonhar o vislumbre da tua imagem no vazio das horas inacabadas.

O desespero de estar a teu lado e sentir cada vez estar mais longe, é vendaval na inquietude da minha obsessão.

Esta vontade, esta ânsia de querer que desapareçam as horas de ausência, torna-me irracional, vejo-te em todos os lugares da minha imaginação, esta irrealidade reflecte o teu rosto em todas as sombras, em todas as mulheres que passam a meu lado.

Este viver impossível arrasta-me para a tempestade da loucura, procuro fugir de ti e cada vez mais os meus passos se dirigem ao teu encontro.

Gostava de esquecer-te, sentir que nunca te conheci, que foste apenas chuva de verão, uma visão fugaz num dia perdido na vida.

Esquecer que foste a paixão dos meus sonhos, a ilusão dum céu de estrelas em tarde de sol.

Gostava de esquecer tudo que no mundo me lembra de ti, esquecer as terras do sem fim, a pureza do teu ser, o mistério do teu corpo, o lago dos teus olhos em que me afogo…

Quero esquecer, ir para longe de ti, mas como? A tormenta dos sentidos pinta-me o teu rosto na escuridão da noite, as nuvens desenham-me o teu corpo, o vento sussurra-me a tua voz…

Nesta agonia, nesta hipocrisia da vida, neste engano de sentimentos, tenho de esquecer o ardor do fogo das tuas recordações, tenho de esquecer as tuas saudades!


Quinta do Anjo, Agosto de 2008

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

GOSTAVA DE AMAR-TE

Gostava de amar-te, como a noite ama as estrelas, o dia a madrugada, o sol a alvorada, os pássaros a imensidão do espaço, os homens a liberdade, gostava de amar-te…

Amar-te, como ama um náufrago perdido na escuridão do nada, um marinheiro ao ouvir o canto da sereia, um ébrio escondido da vida…

Gostava de amar-te, em local longe do mundo, loucamente, onde só ouvisse a tua voz, os teus silêncios, os teus suspiros, o calor dos teus braços, a carícia das tuas mãos, a doçura dos teus lábios…

Amar-te, como se fosse a última vez, perdidamente, o último momento da nossa existência, amar-te com paixão, mesmo sabendo que te amava para perder-te…

Gostava de amar-te, como o poeta louco ama a morte e procura nos seus braços o descanso imortal, como o amante apaixonado busca no abismo o fogo da sua paixão, como a alma perdida procura no silêncio o grito do chamamento da vida…

Amar-te, com desespero, com amor, com paixão, beijar e acariciar todos os recantos do teu corpo, sentir a sensualidade do teu suor e do teu cheiro, unir o teu corpo ao meu e neste êxtase de entrega e posse deixar desaguar o rio que nos afoga e nos arrasta para o mar da nossa ilusão…

Gostava de amar-te, mesmo na desesperança de saber que não te posso amar, que tu não me podes amar, que esta rebeldia é sonho perdido no nevoeiro de um dia que não existe…

Amar-te, na angústia da distância que nos separa, dizer-te que a vida foi cruel, foi ingrata, não nos deixou encontrar quando foste selva por desbravar, quando foste mundo por descobrir, quando o meu ser era bonança e não tempestade…quando te conheci, era tarde, foi somente para fugir de te encontrar!

Gostava de amar-te, meu amor!


Quinta do Anjo, Agosto de 2008

Carlos Manuel Fernandes Gonçalves

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

TERRA INOSPITA - FLORES E VIDA

Árvores decrépitas, ramos secos, termo de vida;
Mato derrubado, amorfo, pisado;
Ervas cor de cinza, caídas, exangues;
Pássaros mudos, voando sem rumo;
Calor tórrido, vento ardente;
Terra dura, terra sem vida, terra sem sangue.


Casas velhas, casas remendadas, casebres, pessoas ignorantes forçosamente dóceis, pessoas vendidas, esqueletos de vida…

Mundo de angústia, terra apocalíptica!

Uma flor.
Uma rosa.
Fragrância e paixão.


Uma flor, uma rosa no meio de pedras!

Uma visão doce de serenidade, de amor, em terra impura.

Contraste de vida: o caos e o nada, a esperança e a beleza!

No decurso do trajecto para esta terra, percorri, nos primeiros passos, jardins de frescos lírios, colhi um, foi a primeira ilusão, tudo foi efémero, quão efémeras eram as suas delicadas pétalas. De seguida encontrei um fascinante campo de orquídeas, ali descansei, saciei a fome, a sede e o ardor dos sentidos, foi o meu oásis, o meu amor…

Agora em terra de abandono, admiro, extasiado, uma rosa solitária, de folhas verdejantes e frescas pétalas, como que envergonhada na exposição da pureza e nudez do seu mundo, estranha imagem de mistério em terra bruta… Olho esta flor, contemplo a sensual beleza, o exótico encanto que emana da sua presença, a paixão do seu odor ofusca-me os sentidos, mas hesito, perturbado pelo sentimento de sedução e de posse, apresso o passo, não sei se com a ideia de fugir de me encontrar, ou de me encontrar fugindo… esta flor vai continuar a viver selvagem no vazio daquele mundo!

Amanhã vou seguir viagem, esta terra inóspita vai ficar para trás, os meus passos irão levar-me de novo ao recôndito lugar do meu entardecer, este é um destino que tenho marcado na minha existência e que, por desistência, não ouso contrariar. Nos próximos dias, o vento vai trazer-me, desperto, o cheiro daquela rosa e o adeus que nunca lhe direi, mas tal como desaparece no tempo o odor do vulgar perfume, também na voragem da vida, se vai esvair, dolorosamente, a lembrança dessa flor da minha paixão.

A realidade vai abrir um mar na distância que nos separa e, como mal sei nadar, sei que se um dia a procurar, será, convictamente, para me afogar!

Lírios de Primavera… orquídeas de Verão… rosas de Outono…

Ilusão! Amor! Paixão!

Flores.

Vida!



Agosto de 2008

Carlos Manuel Fernandes Gonçalves