sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

INTERVALO DE PALAVRAS e ... perdido

INTERVALO DE PALAVRAS


Tenho estado no intervalo das palavras!

Tudo na vida tem um intervalo, a excepção, talvez seja, a própria vida, que não aceita intervalos na sua caminhada.

O meu intervalo deveu-se a uma fase de desilusão, no constatar de algumas situações que não aprecio, também de reflexão, no sentir que, muitas vezes, não sei para que escrevo e para quem escrevo.

Comecei a redigir textos sobre a minha terra, as minhas raízes, uma aldeia perdida no interior da Beira Serra, de seguida, aventurei-me na prosa da vida, mais tarde, descobri a poesia.

Sou um incipiente num mundo de intelectuais, alinhavo palavras, não sei rimar!

Tenho escrito muito, nem sempre bem, escrevo o que sinto, quase sempre vivências, mas também ficção, umas vezes melhor, outras pior, com palavras minhas, nunca nos meus textos fiz, conscientemente, plágio de algo ou de alguém.

É óbvio que, vivo influências de outros escritores, quem lê muito, durante a vida, fica sempre impressionado com um determinado estilo de escrita e modo de pensamento, não nego que Miguel Torga é, para mim, uma fonte de inspiração, mas mesmo aqui não sei se é Torga que se insinua no meu espírito ou se, pelo contrário, ambos bebemos da mesma fonte inspiradora, ou seja, as origens modestas, as aldeias, as fragas, os montes e vales… Torga disse, ‘quem faz o que pode, faz o que deve’ e esta tem sido, na verdade, a minha maneira de ser, não apresentar mais do que aquilo que posso fazer.

Este fenómeno dos blogs é uma situação deveras interessante, é uma forma de cultura, escrever sentimentos, transmitir opiniões, descobrir talentos, fazer amizades, aprender…
Aqui encontrei pessoas com um dom de escrita, em prosa e verso, de excepcional qualidade, só não sendo conhecidos do grande público, uns por não se quererem expor e outros por falta da procura de oportunidades e desconhecimento de editoras.
Mas este é, também, em pormenores, um mundo de enganos, de insinuações, de falsos talentos, de habilidosos, de muitos que necessitam do anonimato da escuridão para poderem ser visíveis, enfim, um buraco negro que aceita todo o tipo de mistificações.
Há muitos que plagiam descaradamente, outros inserem textos eróticos, mesmo pornográficos, para atraírem comentários libidinosos e alguns, apesar de serem escritores com livros publicados, limitam-se a inserir textos de autores consagrados, mostrando como são eruditos no gosto das escolhas.

Muita gente preocupa-se, essencialmente, em ter nas suas publicações, muitos comentários, normalmente de apreço, que os colegas e amigos, simpaticamente, lhe fazem chegar, e depois, como resposta, inserem um texto, em prosa ou verso, igual para todos, não se preocupando minimamente em ler e responder aos textos dos seus colegas. Existem alguns que dizem sempre os mesmos adjectivos, ‘belo’, ‘maravilhoso’, ‘fascinante’, ‘admirável’, etc., e outros que fazem comentários a roçar o inconveniente, de muito mau gosto.
Também há, felizmente, muitas pessoas sérias e honestas nestes ambientes, que me tem deleitado com a poesia das suas palavras e com quem muito tenho aprendido (há mesmo uma que me obrigou a ter o site do ‘Priberam’ nos meus favoritos) e que sempre vou recordar com muita simpatia e amizade.

Tudo isto me fez hesitar, no sentido de continuar ou terminar este ponto de encontro, mas a pedido de muitos conhecidos e amigos, ligados às minhas origens e a este intercâmbio bloguista, vou continuar, periodicamente, a deixar algumas mensagens, em prosa ou verso, de palavras, que tal como as fragas da minha serra, podem ser informes, escuras, duras e angustiantes, mas serão sempre genuínas, minhas…


Quinta do Anjo, 14 de Janeiro de 2010

Carlos Manuel Fernandes Gonçalves







P E R D I D O


ESCURIDÃO

Porque será:
que as nuvens são espantalhos,
a chuva são pedras,
o frio é branco,
o sol é preto
e a escuridão me engole?
Sim,
porque razão, o vento me arrasta e me leva de ti!


Quinta do Anjo, 10 de Janeiro de 2010 (10H58)

Carlos Manuel Fernandes Gonçalves



SOLIDÃO

Solidão:
Onde as paredes esmagam,
e as sombras são o destino;
o canto dos pássaros silêncios,
e os silêncios são gritos!
E eu... sim, quem sou eu nesta agonia?
Apenas... um rio sem nascente, na margem da vida,
um barco no deserto, em busca de ti!


Quinta do Anjo, 10 de Janeiro de 2010 (16H34)

Carlos Manuel Fernandes Gonçalves

17 comentários:

Anónimo disse...

Oi Carlos!
Que bom ler vc novamente. Não tenho o dom das palavras e admiro muito pessoas como vc se conseguem transmitir o que sentem através de versos.Ainda bem que vc voltou!
Bjs.

Graça Pereira disse...

Carlos
Antes de mais nada, fiquei feliz com o teu regresso. Há poucos blogs autênticos (pelo menos aqueles que eu visito..) e tu fazes falta!
Depois, quero dizer-te que, no meu entender, um blog deve ser construído para NÓS PRÓPRIOS, como se fosse um diário onde depositamos as nossas vivências. Quem gostar..gosta, quem não gostar..feche a porta devagarinho!!
Finalmente, tem de haver um objectivo ( e continuo a falar no meu caso...) Queria e quero acima de tudo, homenagear a minha terra e os anos felizes que lá vivi, relembrando histórias verídicas passadas comigo ou com a minha família. Mostrar o lado mágico de um Moçambique pouco conhecido...não sei se o tenho conseguido. Uma coisa é certa: uso com simplicidade e total verdade, as palavras com que pinto todas estas cenas tão presentes na minha memória.
Estou de acordo contigo quanto à qualidade dos comentários. Não pretendo o Luis de Camões a fazer sonetos ao que escrevo. Mas acredito que muitos, não leem nada do que se escreve e, taxativamente,
adjectivam: Belo, maravilhoso,único... e lemos os mesmos "palavrões" nos outros blogs das mesmas visitas...
Não procuro comentários mas eles aparecem normalmente pelo espaço de dias que cada post fica, consoante o meu tempo livre( que é pouco) para vir de novo ao computador "relembrar" mais coisas... Depois, a porta está aberta e entra quem quer e quem vier por bem. Já tenho tido algumas surpresas desagradáveis...mas adiante!
Termino esta longa coversa, repetindo:
Estou contente por teres terminado o teu intervalo.
Um beijo
Graça

Graça disse...

Meu querido Carlos,

Li o teu texto, atentamente, como sempre faço antes de comentar. E detive-me no "não sei para que escrevo e para quem escrevo"... Há dois anos, quando criei o meu Teatrices, fi-lo anonimanente, não procurei ninguém, nem visitei blogues, na tentativa de ser lida. Escrevo para mim, porque gosto, porque sinto necessidade de ordenar os meus pensamentos...
Todas as pessoas que chegaram ao meu "palco" fizeram-no não sei bem como... tu próprio, não sei como me descobriste. Acontece que penso exactamente como tu, sobre os comentários de quem nem lê, sobre as palavras vazias e automaticamente repetidas no blogue seguinte. Acontece também que encontrei pessoas magníficas (sem ser palavra gasta) e que aprendi a vê-las como parte deste meu "palco" virtual. Algumas fazem, neste momento, parte da minha vida real e só pude confirmar que são mesmo magníficas... como tu. A tua escrita revela um ser humano sensível, decalcado dessa Natureza que tanto amamos, tu e eu.
Por tudo isto, querido Carlos, espero ler-te muito, por aqui, por lá, onde for, porque gosto. Quanto à parte que me parece dedicada :) "que sempre vou recordar com muita simpatia e amizade."... não é cedo para me remeteres para as tuas recordações? Espero por ti, no meu "palco".

Um beijo doce e nunca gasto.

Lusa Vilar disse...

Carlos,
Sua amiga Graça Pereira escreveu por mim.Não guarde consigo essa beleza interior que nos encanta.Simplesmente,do fundo do meu coração, quem descobriu você não o perdoaria, se privado fosse da leitura dos seus textos e poesias tão encantadoras. Não se vá, milhares de pessoas que por aqui passam não se atrevem a comentar por se sentirem pequenas demais diante da grandiosidade do que escreves. Não sei porque eu me atrevi a tanto, pois confesso que eu sou uma delas,sua cultura me assusta!

_Sentido!... disse...

Também eu muitas vezes preciso fazer intervalos, uns forçados por diversos motivos, outros porque me perco mesmo e preciso ficar longe.
Hoje decidi-me a perder umas horas de sono para retribuir mimos que muitas vezes não faço porque o tempo não estica e se há coisas que não suporto é deitar palavras fora. Amo as palavras e para cada um dos meus amigos elas nunca podem ser as mesmas. Às vezes os escritos me emocionam e eu fico sem jeito e não sei o que dizer, volto mais tarde..., tu sabes!
E foi neste roteiro que hoje me destinei que te reencontrei, finalmente, reencontrei-te! Então, para que conste, depois de ler-te, fiz um pequeno intervalo :)), fui fazer um café, respirei fundo, e aqui estou de novo, sentada no meu sofá, diante de ti, olhos nos olhos, para te dizer quanta falta me fizeste nestas semanas (sabes que não minto, chamei por ti e tu ouviste... :)!
oh... espera aí só mais um kadito, vou reler-te... :))
... tens razão às vezes incomóda não entendermos mt bem para quem escrevemos, e isto simplesmente porque não fazemos colecção de amigos e queremos gostar daqueles que temos, e gostamos de verdade. Mas eu também concordo com a Graça quando diz que em primeirissimo lugar escrevemos para nós. Mas uma coisa é certa, precisamos que nos leiam, que nos entendam que comuniquem connosco e aprendam quem somos. Todos que amamos ler e passamos a ter necessidade de escrever, penso eu que nos deixamos influenciar por determinado estilo de quem gostamos mais de ler, acho isso normal, até chegarmos ao nosso ponto.
Tu escreves muito bem, amigo, tens uma fortissima personalidade, tens o teu estilo muito próprio e uma maneira de estar também muito própria junto de cada um de nós.
Nós dois já brigámos muito (8 ou 80né?! tu e eu)mas a gente se ama num amor saudavel que é afinal uma amizade grande assim deste tamanhão :)))
A net é o mundo inteiro alí ao alcance da nossa mão, um mundo que a gente aprende a "ver" com os olhos da alma, e tal como este que nos rodeia, que é o real, tem coisas muito boas e outras muito más, com a agravante de que todas elas estão muito mais ao nosso alcance..., por isso nos machucamos muito mais.
As palavras vão-me saindo a correr pq deixei o coração fugir paara a ponta dos meus dedos, já não sei o que escrevi, nem vou ler, também não vou ocupar mais espaço aqui, digo-te apenas que toda esta lenga lenga foi para tentar te agarrar um tempinho mais aqui ao pé de mim.
Gosto de ti amigo, sei da vontade de desaparecer, sei de como é dificil voltar, sei da saudade de estar dos que mais nos marcaram.
Por isso também sei que vais ficar connosco durante muito tempo, porque te fazemos tanta falta quanta tu nos fazes a nós.
Tenho saudades das tuas birras comigo!
Beijos doces :)))
Fico à tua espera no meu cantinho.
Tens muito que ler, para além do que não é de minha autoria ;))))

Anónimo disse...

Que bom que voltastes e, tu não só alinhavas palavras, mas as tece muito bem! Gosto do teu espaço, delicio-me com seus textos e poemas, viajo até sua serra, sua aldeia e sinto-me bem. Há muita coisa comum neste mundo bloguista, porém tu com certeza não o é!
És raridade, encanto, poesia...

Beijos confessos

Camila Fontenele disse...

Olá, e fazia tanto tempo que não passava por aqui,saudades das suas palavras!

Beijos!

Carmo disse...

Carlos, agora compreendo o teu silêncio, também eu muitas vezes me questiono se vale a pena continuar. Mas não posso desistir prometia que a "naturezadeshumana" seria um blogue partilhado com a "Flor do meu Jardim de Afectos" não quero desiludi-la. Por vezes também faço pausas, como agora se reparares não tenho escrito nada meu.
Quando questionas para quem escreves, escreve para ti, para aqueles que te são queridos, mesmo que eles não leiam (é o meu caso) a minha "Flor" jamais irá ler o que escrevo dela e para ela.
Carlos tu és da velha guarda nunca te esqueças que "não há machado que corte a raíz ao pensamento"
Adoro a tua sensibilidade, a tua simplicidade, a tua poesia.
Beijinhos
Carmo

_Sentido!... disse...

Venho trazer-te um beijo :))

Vivian disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Vivian disse...

"Irei falar-vos do que já sabeis para que possais aprender e para que eu mesmo aprenda.

Repartir a sabedoria é uma forma de aumentá-la e também aprende aquele que ensina.
Pois o homem não consegue falar
a si mesmo, senão quando finge falar aos outros homens.

Deixai-me falar aos ouvidos
dos vossos corações; em voz baixa, pois a Razão não necessita gritar para se fazer ouvir.

E serão inúteis as minhas
palavras se eu não as disser
em nome da Razão e se nelas
não houver o espírito
da Verdade.

Porque a palavra vã não
ultrapassa os limites dos
ouvidos e a boa palavra
frutifica em vossos
corações.

Que sejam, pois, as minhas palavras

- como a água que retempera,
- como a brisa que refresca ,
- a lua que faz sonhar,
- as canções que fazem sentir .

Porque assim são as palavras
que ouvimos todos os dias
dos lábios do Pai.”


Trechos isolados extraídos do livro - A Sabedoria de Hassan
Flávio Cruz

...meu querido poeta,
criar um blog é como parir
um filho e a ele dedicarmos
todo nosso cuidado, todo
nosso zelo para que cresça
feliz e rodeado de boas
infuências, bons amigos,
para assim se obter uma
troca de intensas energias
do bem.

nem sempre isso se faz possível
quando sabemos estar em um mundo
escola, um mundo de muitas cabeças,
algumas mais adiantadas, outras
nem tanto, mas todas no mesmo sentido do relacionar-se para ajudar ou ser ajudado.

o que nos move portanto é a
consciência intuitiva que nos
chama à razão, e assim,
nos indica os caminhos que
nos trarão felicidade ou não.

no campo das emoções bem
sabemos existir amigos coração,
outros razão, e tantos outros,
um vago sentir,
mas todos eles de alguma forma
são importantes porque nos
lapidam, testam, ensinam,
e nos colocam na berlinda
do entendimento de que
as pessoas são como são,
e nestas diferenças,
crescemos todos.

...desculpe-me o tamanho do
post, mas meu coração veio
nas pontas dos dedos.

bj, querido!

não suma, porque você faz falta!

intervalo disse...

Carlos,a vida não tem intervalos,concordo com você,por isso agradeço que tenha saido do seu intervalo e nos proporciona leitura de mais um belo texto,algumas amigas disseram por mim,também tenho dificuldade com as palavras,você tem facilidade e quando fala da tua terra,suas raízes é uma viagem que gosto de fazer.Os intervalos as vezes são necessários e precisamos deles,confesso vim aqui diversas vezes e naõ consegui digitar uma palavra,também ando nos intervalos,faz parte da vida eles nos ajudam a ser um pouco melhor no amanhã se chegar,desejo que chegue e que tenha oportunidade de ler muitos textos que estão aí dentro de ti formentando,desejando sair e tornar-se palavras que muito bem nos faz.

Desejo tenha uma semana linda,querido Carlos.beijoss com carinho meu.Lia...

_Sentido!... disse...

Carlos, meu amigo querido, há horas na nossa vida em que as palavras sábias de que precisamos, estão na boca de quem as sabe usar!
Foi o caso!
Precisei de as pedir emprestadas a Nuno Judice, pk sem saber (ele), há mt havia inventado a msg que eu ontem precisava passar!
Jamais eu conseguiria desenhar um tesouro como aquele que leste alí em cima!
Gostei de saber que voltaste, finalmente, e que não te esqueceste de me avisar.
Beijo aceite, e retribuido num xi-coração embrulhado no teu pescoço ;)))

M.

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Lindissimo poema.
Gostei do que escreve, vou voltar

Sonhadora

Carmo disse...

Querido Carlos agora que a tua Serra foi escolhida como uma das 7 maravilhas do nosso cantinho desististe de escrever? Porventura andas a inflaccionar a "nossa" cabana?

Bom fim--de-semana

beijo
Carmo

Vivian disse...

...trago beijos de sol ao meu poeta
de palavras mágicas!

instigaste-me a postar,
e assim o fiz.

passeie por lá quando puderes.

AFRICA EM POESIA disse...

Com um beijinho...
o meu livro do Sporting está por aqui....

LAREIRA


Lareira acesa...
Lareira quente...
Vermelha muito vermelha...
Cheia de cores...
Que aquecem...
E me deixam encostar...
O meu rosto ao teu...
E dizer-te baixinho...
Fica aqui...
E deixa-me ficar...
Sempre assim!...

LILI LARANJO