segunda-feira, 29 de março de 2010

D E L I R I O S [...na aragem da vida] !



DELIRIOS


Sou quem:

Despenteia os teus cabelos na imagem das ondas da serra;

Afaga o sensual dos teus lábios na aragem dos dias;

Navega em teus olhos num bolinar de encanto;

Sussurra ao teu ouvido ais delirantes;

Esculpe na brisa o formoso do teu rosto;

Viola o teu ser no bramido do vendaval;

Bate à janela do teu leito no refúgio da noite;

Enlaça a tua alma nas loucuras da paixão;

Abraça o teu coração em amor de perdição;

Beija o teu corpo num frémito de desejo;

Geme na carícia do fascínio dos teus seios;

Te envolve e entra em ti quando te desnudas nas dunas…

Sim, sou eu… o vento!



Carlos Manuel Fernandes Gonçalves


Quinta do Anjo, 25 de Março de 2010










S E I - T E



Sei-te:

Neste intervalo inconstante, em que as nuvens plagiam o compasso do tempo;

Nesta tarde de Primavera, que se esvai num sussurrar plangente;

Num dia inexistente, na margem da existência;

No fulgor, que ofusca a neblina da serra.

Sei-te...

Não... não te conheço... sonho-te!



Carlos Manuel Fernandes Gonçalves


Montijo, 24 de Março de 2010









PAIXÕES



As paixões são como fotografar o vento, quando mais tarde fazemos a revelação nada fica na imagem, ou fica apenas paisagem!



Carlos Manuel Fernandes Gonçalves


Quinta do Anjo, 11 de Dezembro de 2008

(‘O meu diário’)



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Carlos Manuel Fernandes Gonçalves



Quinta do Anjo, 29 de Março de 2010

sexta-feira, 12 de março de 2010

ENCONTRO [... no meu entardecer]



Encontrei-te a meio da montanha.
Era meio da tarde. Tu subias, eu descia.
Trazias contigo o sol de Verão, no calor do teu corpo, o teu cheiro, no perfume das flores da serra, uma sinfonia de sonho, no cantar da cotovia…
Em tempos, tinha subido a montanha, atingido o cume, por lá me tinha quedado, antes de encetar a descida, esse declive que agora ia percorrendo, na aragem ímpia das minhas sombras, no deserto da minha solidão, com o sol do entardecer no horizonte e o silêncio, em gritos, no ressoar dos meus passos.
A tua presença, naquele lugar, encheu-me a vida de sonhos, os teus olhos castanhos, cor de terra da minha terra, refulgiram em mim o azul do céu, o teu cabelo, tom de mar encrespado, deu-me a visão de searas de ninfas encantadas, o teu corpo deu-me a imagem paradisíaca dos montes e vales da serra…
Perdi-me na doçura das tuas palavras, no fascínio dos teus lábios, nas promessas do teu corpo, no sentimento de posse da tua alma…
Naquele momento, foi maravilhoso conhecer-te, sentir o belo de ti, viver o amor duma tarde de Verão, no Outono de mim!
Eu sabia, era um encontro fugaz, um momento de paixão, que a sombra da tarde apagaria, quando, no crepúsculo, eu descesse ao vale e tu fosses a imagem duma estrela candente na noite da minha existência.
Na hora da partida, olhei-te nos olhos, tinham o brilho, no reflexo dos meus, da orvalhada das manhãs na serra, não trocámos palavras, ambos tínhamos consciência que os nossos caminhos apenas se tinham cruzado em efémeros instantes, todavia, em mim, tinha ficado uma certeza: na minha vida, ficaria, eternamente, um dia com data marcada, o dia em que te conheci, o dia em que te amei!
Quando nos despedimos, no prosseguir do caminho interrompido, as nossas sombras cruzaram-se e, na minha emoção, eu senti o teu beijo [doce], no abraço do adeus.

(Esta é a carta que, eu sei, um dia te vou escrever!)


Carlos Manuel Fernandes Gonçalves

Quinta do Anjo, 12 de Março de 2010