segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

UTOPIA



Chegaste!

Vieste do tempo ou do nada, chegaste sem te chamar, entraste sem avisar.

Lembro-me do dia em que apareceste, um dia cálido, era estio, fantasma ou sereia da serra, e te instalaste, quase sem dar por isso, no recanto do meu ser, silenciosamente, como uma brisa passada por entre as frinchas da minha janela.

Entraste na minha vida, uma luz translúcida na opacidade do vazio, fiquei fascinado no sentir da tua figura omnipresente, na imagem do teu sorriso sonhado, na meiguice da poesia da tua voz, na doçura do virtual dos teus lábios…

A tua presença veio trazer-me prados em flor, serras de matos sedosos, asas para voar no quimérico do infinito, esperança de dias a amanhecer, oceanos agasalhados em beijos, mas trouxe-me, também, mais inquietude ao meu desassossego, perturbou-me o espírito, incendiou-me a alma.

Não sei quem és! Não sei se encenas o passado ou o futuro da minha vida, na minha angústia de hoje, eu sei, és ilusão na paixão, és apenas utopia!

Num dos próximos dias, tal como chegaste, vais ser nuvem e desaparecer. Vais levar contigo o onírico de mim, o fogo do vulcão com que me abrasaste o coração, a lava vai ser pedra fria, no abandono do abraço dos sentimentos, no fim do prazer dos sentidos… Vou quedar-me tição apagado, no crepúsculo da ausência, vento uivante, na tempestade da alma, paixão esquecida, no anoitecer da vida.
Nesse instante, vou colocar-te no sidéreo do meu universo, uma estrela no firmamento de estrelas, uma luz que eu possa ver nos dias da minha escuridão, nos gritos do meu ser, nas noites de saudade…



(Partiste! Folha solta, levada pelo vento… Era Outono!)


Quinta do Anjo, 9 de Dezembro de 2009

Carlos Manuel Fernandes Gonçalves

domingo, 6 de dezembro de 2009

DESGARRADAS - SENTIMENTOS DISPERSOS



TEU CORPO - MAR

Nas ondas do teu corpo,
Minha alma a naufragar.
Fundura,
Loucura,
No desvario de amar.

No mar dos desejos,
A âncora soltei…
Dos sonhos,
Dos beijos,
Do corpo que amei.


Quinta do Anjo, 27 de Novembro de 2009

Carlos Manuel Fernandes Gonçalves





CANTO AO ENTARDECER

Cantas melro, nestas horas,
Em cima da árvore fria.
Cantas ou será que choras!
Conheço-te bem o cantar,
Não te conheço o chorar.

Também canto com decoro,
À espera da noite fria.
Canto ou será que choro!
Conheço-me bem a chorar,
Não me conheço a cantar.

A vida é desgarrada,
É apenas desencanto.
Nesta certeza do nada,
Podes apagar o calor,
Não podes calar o amor.


Quinta do Anjo, 2 de Dezembro de 2009

Carlos Manuel Fernandes Gonçalves


PLANICIE

Na planície do teu ser,
Desnudo o teu corpo de mulher.
Sou natureza:
Oliveira,
Pureza...
Sou poeira,
No mar
Do teu leito,
Onde me deito.

Quinta do Anjo, 5 de Dezembro de 2009

Carlos Manuel Fernandes Gonçalves