segunda-feira, 27 de setembro de 2010

D E S T I N O !




Por entre as folhas do Tempo,
Cismo o frívolo da vida.
Sei que nasci a destempo,
Em caminho só com ida.

Não vi germinar os ninhos,
Esperança da natureza.
Calei a poesia dos sonhos,
Cantei o rocio da tristeza.

Tempo de tropeço na vida,
Neste destino feito ida,
É a claridade que mondo.

Sou fantasma, quimera, sombra,
Grito inane que me assombra,
Soluço onde me escondo!


Carlos Manuel Fernandes Gonçalves

Quinta do Anjo, 25 de Setembro de 2010

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

OUTONO - DESACERTO!



Se,
pudesse ter rosas no jardim da minha casa, para oferecer-te,
eu gostava do Outono;
Se,
pudesse ver no mar a cor do céu, a cor dos teus olhos,
eu gostava do Outono;
Se,
pudesse ver a Lua quando, na noite escura, te beijo com paixão,
eu gostava do Outono;
Se,
pudesse ver estrelas, numa tarde de Sol, quando te sonho,
eu gostava do Outono;
Se,
pudesse ver em ti a minha musa, na inspiração da tua imagem, quando nos perdemos nas ondas do mato verdejante, na serra da minha terra,
eu gostava do Outono;
Se,
pudesse pintar a beleza do teu corpo desnudado,  num campo de flores,
eu gostava do Outono;
Se…


Disseste que gostas do Outono. Que é mesmo a tua estação preferida!

Gostas do Outono, gostas dos dias a diminuir, dos dias cinzentos, das nuvens do entardecer, do pôr-do-sol pardacento, das folhas secas, da vida caída, do desnudar das árvores, dos campos grisalhos, dos jardins vazios, da antevisão do ocaso …

Eu, no oposto, não gosto do Outono, gosto da Primavera, dos dias a crescer, do nascer do sol, dos dias de luz, do renascer da natureza, do rebentar das folhas, do vestir das árvores, dos campos verdejantes, dos jardins floridos, do amanhecer da vida …

Duas imagens em confronto: dum lado, a juventude que sabe que pode admirar a natureza morta, ver encanto no ocaso do dia, viver o presente, sonhando o amanhã, sem ter medo do futuro; do outro, na antevisão dos medos da decadência, o desejo de nascer todos os dias, viver cada dia como se fosse uma vida, admirar a natureza em todo o seu esplendor, sentir a esperança do amanhã, mesmo quando se vive na desesperança do hoje…

Temos os sentidos trocados: tu, que és Primavera, gostas do Outono; eu, que sou Outono, gosto da Primavera!

Neste desacerto de sentimentos, uma certeza, gostas do Outono, gostas de mim… eu sou o Outono da vida!


Quinta do Anjo, 22 de Setembro de 2009

Carlos Manuel Fernandes Gonçalves


(Repetido, sim, porque todos os anos há desacertos nos Outonos da vida... porque este ano tenho rosas no jardim do meu Outono).


quinta-feira, 16 de setembro de 2010

ESPANTAR ESPANTALHOS!




Em toda a minha vida espantei, espantalhos!

Na meninice e adolescência, na minha aldeia, espantava os espantalhos, que os agricultores colocavam nos campos para evitar que os pássaros comessem a colheita, no sentido de dar liberdade à natureza;

Na juventude, nas tascas e bares do Bairro - Alto, em Lisboa, espantava os espantalhos, persuadindo-os na expressão sarcástica do meu calão;

Hoje, espanto espantalhos com a pena da minha prosa e da minha poesia;

Amanhã, vou espantar o espantalho da morte, enganando-o, dizendo-lhe não, na imagem da minha puberdade…




Carlos Manuel Fernandes Gonçalves


Quinta do Anjo, 15 de Setembro de 2010

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

M O S T O !



Foi em Agosto
Que te conheci.
No ferver do mosto,
O fogo de ti!


O vinho ardeu
E consolidou.
A paixão cresceu,
O tempo passou.


Em rio sem rumo,
O fogo foi fumo,
O amor extinto.


Margem emersa,
Aragem dispersa,
Mágoa que pinto!




Carlos Manuel Fernandes Gonçalves


Quinta do Anjo, 23 de Agosto de 2010