sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

GOTA DE ÁGUA!




Gostava de ser gota de água, pousar e entrar em ti, através do lago dos teus olhos!

Ser gota, riacho, rio e mar, ser a tua água, o mar ameno do teu corpo, um oásis no deserto de ti.

Ser o oceano do teu interior, deslizar nas margens dos teus sonhos, percorrer a distância dos teus afectos, desaguar nos teus canais em ondas de esperança, adormecer saciado na enseada do teu ser…

Ser a água da tua sede, o alimento da tua fome, o sossego da tua tempestade, a calmaria do teu espírito… Deixar a tua alma voar em mim, em fantasias descuidadas, nas vivencias da paixão, perfumar-te o coração em banhos de amor, beijar-te a vida num abraço sem fim!

Espraiar-me no fascínio da ilha de ti, fazer da tua areia o meu leito, prender-te nos meus braços de mar chão, acariciar-te na meiguice das minhas ondas, beber-te o corpo na avidez da espuma dos meus desejos, amar-te, com loucura, no esquecimento da vida.

Gostava de ser uma gota de ti, meu amor, para poder ser teu!


Quinta do Anjo, 19 de Fevereiro de 2009

Carlos Manuel Fernandes Gonçalves

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

S O N H O S !





Toda a minha vida foi vivida, sonhando… sonhos!

Fui garimpeiro em serras, montes e vales, na procura de quimeras. Entrei em cavernas, cavei e furei, apenas colhi ecos de aflições e angústias, que alguém, antes de mim, ali tinha semeado.

Voei sobre campos e planícies, sobrevoei nuvens, sonhei chegar ao Céu. A rota era de vazios e escuridão, naufraguei nos gemidos do vento, nas lágrimas das nuvens, nos medos de mim…

Naveguei em rios, mares e oceanos, sonhava margens suaves, ondas calmas, ninfas, sereias e ilhas luxuriantes. Encontrei colossos de escolhos, mares encrespados, procelas, plantei rosas na areia, bebi água salgada, banhei-me em sonhos de espuma...

Explorei selvas, nunca antes desbravadas, na descoberta de fantasias perdidas. Penetrei no seu âmago, abri veredas, desfiz barreiras, enfrentei o selvagem do bravio, encontrei-me desaparecido entre os perdidos, um condenado na procura das trevas…

Aventurei-me no deserto, no desejo de oásis encantados, deusas e odaliscas. Enfrentei fantasmas de sombras, derreti-me na torreira do espírito, gelei no frio da alma, delirei abraçado ao corpo da solidão…

Fui gladiador na busca da felicidade, numa ânsia de conquista de paz, amizades, paixões e amor. Lutei numa arena de feras, em vez de paz deram-me ódio, os amigos tornaram-se inimigos, vivi ilusões por paixões, o amor foi desamor…

Num derradeiro sonho, procuro o oculto, o centro da Terra, na utopia do paraíso eterno. Cavo um poço, uma janela de esperança, e quando entro em devaneio, na miragem da ilusão, encontro um lago de água fria e o banho com que lavo a alma, faz-me desvanecer a embriaguez dos sentidos. Porfio, avanço, ainda resisto a uma torrente de ouro preto que me mumifica a esperança, mas quando vislumbro o fogo do vulcão, que me impede a passagem, já sei que cheguei ao fim do caminho, os sonhos da vida, que sempre sonhei, vão ter o seu ocaso, queimados, fumo e cinzas no regresso ao nada.

(Hoje, no fim dos sonhos, sou lava solidificada, sou pedras pretas, calçada que tu pisas quando passas na rua.)


Quinta do Anjo, 5 de Fevereiro de 2010

Carlos Manuel Fernandes Gonçalves