Quando nasci quis ser alto, Mas bebi torpe veneno, Não cresci, fiquei pequeno, Andei nas margens a salto.
Sempre bom conversador, Mesmo falando à calada, Com língua sempre afiada, Cantando amor e dor.
Amante de belezas alheias, Perseguido pelas feias, De poeta muito pouco.
Em existência de ninguém, Fiz das paixões o meu bem, Funesto voar dum louco.
Carlos Manuel Fernandes Gonçalves
CIRCO DA VIDA
A vida é um circo, de luzes, de feras, de palhaços...
Despercebido, a um canto, escondo-me nas sombras, enfrento os animais, assisto à palhaçada!
Carlos Manuel Gonçalves
M I R A G E M
Olho o Oceano, olho o horizonte, tento agarrar o mar, tento segurar o mundo... Puro engano, tudo é efémero, tudo é ilusão: agarro a água e a mão apenas fica molhada; seguro a areia e o mundo esvai-se por entre os dedos!
Carlos Manuel Gonçalves
V E N E N O
A vida é como as gotas de veneno que vamos bebendo, do cálice que um dia enchemos, não morremos no imediato, vamos morrendo, aos poucos, todos os dias.
Carlos Manuel Gonçalves
N A T U R E Z A
Natureza, fogo, mulher que amo: flor a desabrochar, na Primavera; mar calmo de êxtase e beleza, no Verão; doce seara ondulante de espigas maduras, no Outono; brasa de calor perene, nas noites de Inverno...
Carlos Manuel Gonçalves
O C A S O (vida)
... e quando eu não te puder acompanhar, deita-me naquele vale verdejante, adormece-me sob a sombra daquele salgueiro, símbolo da imortalidade da alma, que aquela flor além, aquela rosa, deixe em mim o êxtase do eterno perfume da vida!