Chegaste!
Vieste do tempo ou do nada,
chegaste sem te chamar, entraste sem avisar.
Lembro-me do dia em que
apareceste, um dia cálido, era estio, fantasma ou sereia da serra, e te
instalaste, quase sem dar por isso, no recanto do meu ser, silenciosamente,
como uma brisa passada por entre as frinchas da minha pele.
Entraste na minha vida, uma luz translúcida na opacidade do vazio, fiquei fascinado no sentir da tua figura omnipresente, na imagem do teu sorriso sonhado, na meiguice da poesia da tua voz, na doçura do virtual dos teus lábios…
A tua presença veio trazer-me
prados em flor, serras de matos sedosos, asas para voar no quimérico do
infinito, esperança de dias a amanhecer, oceanos agasalhados em beijos, mas
trouxe-me, também, mais inquietude ao meu desassossego, perturbou-me o
espírito, incendiou-me a alma.
Não sei quem és! Não sei se
encenas o passado ou o futuro da minha vida, na minha angústia de hoje, eu sei,
és ilusão na paixão, és apenas utopia!
Num dos próximos dias, tal como
chegaste, vais ser nuvem e desaparecer. Vais levar contigo o onírico de mim, o
fogo do vulcão com que me abrasaste o coração, a lava vai ser pedra fria, no
abandono do abraço dos sentimentos, no fim do prazer dos sentidos…
Vou quedar-me tição apagado, no
crepúsculo da ausência, vento uivante, na tempestade da alma, paixão esquecida,
no anoitecer da vida.
Nesse instante, vou colocar-te no
sidéreo do meu universo, uma estrela no firmamento de estrelas, uma luz que eu
possa ver nos dias da minha escuridão, nos gritos do meu ser, nas noites de
saudade…
(Partiste! Folha solta, levada pelo vento… Era Outono!)