domingo, 19 de fevereiro de 2012
POEMA DE AMOR!
Estava encostado à serra,
Sentindo o relógio do tempo,
Ouvindo o cantar do silêncio...
Passa por mim o vento e diz:
‘Faz-me um poema de amor’!
Já me tinha esquecido,
Como se faz um poema de amor,
Mas tentei...
Reuni as minhas fontes inspiradoras:
As nuvens andavam perdidas,
Só uns farrapos distantes me desenhavam ausências;
O céu estava azul, mas tão frio,
Que me enregelou os sonhos nos voos do meu espírito;
O sol escondia-se pálido no horizonte,
O arco – íris pintava de preto o ocaso;
O vento era gélida brisa fugídia,
Uma imagem esbatida nas carícias do meu corpo;
A lua, sempre tão apaixonada,
Escondia envergonhada o quarto minguante;
O mar, do amar das minhas ondas encantadas,
Era espuma de pedra em desvairados desamores;
A serra da minha terra, em vez do paraíso da paisagem do etéreo,
Encheu-me de cacimbo os meus olhos sonhadores;
Os passarinhos, sempre tão esfusiantes na beleza do seu cantar,
Estavam quedos e mudos, em dormência embriagada, nos campos abandonados;
O riacho, de um murmurar tão doce e passadas de ballet,
Estava seco, exangue, margens esventradas, em terra nua;
As paixões, deusas e ninfas do meu entardecer,
Escondiam-se no nevoeiro de um dia que não existe...
Olho as sombras da serra,
O pôr-do-sol pardacento,
O frio que me assola a alma...
Passaram as horas,
Ficou o silêncio,
O vazio gritante,
As linhas em branco,
De um poema de amor,
Por escrever...
Carlos Manuel Fernandes Gonçalves
Quinta do Anjo, 19 de Fevereiro de 2012 (18H37)